Destaque no FESPACO 2017, o festival de cinema da África

Infelizmente pouco conhecido, o que revela a manutenção do racismo na invisibilidade da mídia e da atenção pública para o continente africano, o festival bianual FESPACO em Burkina Faso ocorreu de Fevereiro a Março. O prêmio principal, Cavalo de Ouro, foi para o drama senegalês “Felicité”, de Alain Gomis, que também saiu com o Urso de Prata no último festival de Berlim.

Segundo o crítico Michael Sicinski, o filme “depict those systems of oppression as immutable faîts accompli. This is a complex work of portraiture, tinged with both strength and deep despair.”

Já o Cavalo de Prata, foi para Benin, “Un Orage Africain” de Sylvestre Amoussou, com pegada mais característica do cinema anticolonial africano. O Cavalo de Bronze foi para “A Mile in My Shoes“, drama policial do Marrocos dirigido por Said Khallaf – segue uma crítica moderadamente positiva sobre o filme.

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O melhor ator foi para Ibrahim Koma, no thriller de Mali “Wulu“, dirigido por Daouda Coulibaly, filme que foi muito elogiado pela Bérénice Reynaud do Senses of Cinema. A atriz escolhida foi Noufissa Benchehida por “A la recherche du pouvoir perdu” do marroquino Mohammed Ahed Bensouda.

Outros filmes que competiam que despertam interesse: o drama da Tanzania, “Aisha“, de Chande Omar; o filme de crime de Guadalupe “Le Gang des Antillais“, de Jean-Claude Barny; o representante da Algéria, “Le Puits“, de Lotfi Bouchouchi; o curioso amadorismo de “Praising The Lord Plus One” de Kwaw Paintsil Ansah, de Gana; o filme de música “The Lucky Specials“, de Rea Rangaka, da África do Sul; e a beleza de Niger em “Zin’naariya!”, de Rahmatou Keïta, das poucas representantes femininas da seleção.

 

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Entre os documentários a pauta anticolonial é ainda mais forte e muitos filmes denunciam o racismo, as consequências da escravidão e as disputas e guerras na região. O filme vencedor conta a vida do grande escritor Cheikh Anta Diop que reinvindicava a importância das civilizações africanas ancestrais, “Kemtiyu -Cheikh Anta“, de Ousmane William Mbaye de Senegal; também do Senegal “Bois d’ébène” de Touré Moussa também estava na mostra tratando sobre a escravidão, assim como a entrega da Guadalupe, “Citoyens bois d’ébène“, de Franck Salin; a guerra civil na Costa do Marfim é tema de “Le réveil de l’éléphant” de Souleymane Drabo; o envolvimento do Marrocos na II Guerra Mundial está em “Les Hirondelles de l’amour“, de Jawad Rhalib; o movimento Soweto Uprising dos estudantes da África do Sul é visto em “Uprize!” de Sifiso Khanyile; e “Yolande ou Les blessures du silence” do congolês Léandre-Alain Baker, trata da sobrevivente do genocídio de Ruanda em 1994.

Outros temas explorados foram as consequências do conflito nuclear em Moruroa, na Polinésia Francesa, em “Bons baisers de Moruroa” do argelino Larbi Benchiha; as experiências em cinema direto de Teboho Edkins na África do Sul, em “Coming of Age” e de Ousmane Samassékou em “Les Héritiers de la colline“, sobre processo de eleição em um sindicato no Mali; e a questão da mulher no Niger em “L’Arbre Sans Fruit“, de Aicha Macky. Foram exibidos também filmes sobre “pai do cinema africano”, o grande cineasta senegalês Ousmane Sembène, “Djambar, Sembene l’insoumis” de Eric Boudoulé Sosso e, fora de competição, “Sembène!” de Samba Gadjigo.

Fora de competição, é de se destacar: “Haiti, mon amour” e as consequências do terremoto que devastou o país, de Guetty Felin,; o thriller argelino “Demain dès l’aube“, de Lofti Achour; o drama histórico marroquino “Fidda“, de Driss Chouika; “L’ombre de la Folie“, de Boubacar Gokou; “Lamb“, de Yared Zeleke, o primeiro filme etíope a passar em Cannes no “Un Certain Regrad” de 2015; o documentário “Me a Belgian, My Mother a Ghanaian“, de Adams Mensah, que mostra o trânsito de identidades por conta das migrações; o drama familiar “Medan vi lever“, de Adam Kanyama, da Burkina Faso, representado também pelo doc de expressiva fotografia “Ouaga Girls“; a comédia romântica sul-africana “Mrs Right Guy“; e a ação com toques de comédia da Costa do Marfim, “Sans Regret“, de Jacques Trabi.

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